Cerca de 60% das crianças e adolescentes em todo mundo apresentam dor de cabeça (também chamada de cefaleia).
Apesar de muito comum, a dor de cabeça pode trazer uma série de impactos na qualidade de vida da criança, incluindo faltas escolares e prejuízo no aprendizado.
Existem vários tipos de dor de cabeça que podem afetar crianças e adolescentes. Os principais são a migrânea (popularmente conhecida como enxaqueca) e a cefaleia tensional.
A aura é um sintoma neurológico transitório que pode ocorrer antes ou durante a enxaqueca. Ela pode ser de diversos tipos:
A exaqueca pode ser precedida por alguns sintomas, que podem se iniciar horas ou dias antes da dor. Esse conjunto de sintomas é chamado de Pródromo.
Alguns exemplos:
Existem alguns sinais de que a dor de cabeça pode representar algo mais sério e que precisa ser investigado.
Na presença de um desses sintomas, é necessário buscar uma avaliação médica o quanto antes.
1) Presença de outros sintomas neurológicos. Por exemplo: Alteração na marcha (dificuldade para andar), ataxia (desequilíbrio para andar ou pegar objetos), alteração no exame de fundo de olho, mudanças no comportamento e na cognição, alterações visuais ou no movimento dos olhos, crises convulsivas.
2) Início súbito: Não é uma dor que começa mais fraca e vai aumentando progressivamente sua intensidade, mas sim uma dor que já começa extremamente forte, em seu pico, como um “trovão”.
3) Início durante o sono: Dor que inicia durante o sono e faz a criança despertar por conta dela. Eventualmente, uma dor que também inicia no começo da manhã também chama a atenção.
4) Piora com alguma posição. Exemplo: Piora quando a criança fica deitada ou piora imediatamente quando ela se levanta.
5) Piora com esforços. Exemplo: Piora quando a criança tosse ou faz força para evacuar.
6) Ausência de familiares com história de dor de cabeça: A presença de outros familiares com os mesmos sintomas sinaliza uma condição de menor complexidade, como uma enxaqueca, por exemplo.
7) Uma dor de cabeça nova ou que está piorando cada vez mais. Por exemplo: Surgimento de dor de cabeça em uma criança que nunca apresentou antes; uma criança que já apresentava dor de cabeça, mas que teve uma mudança nas características da dor; ou uma criança que tem apresentado dor de cabeça cada vez mais intensa.
8) Idade muito jovem: Dor em criança com menos de 5-7 anos de idade.
9) Outras condições associadas, como febre, rigidez de nuca, traumatismo craniano ou perda de peso, por exemplo.
10) Dor de cabeça em uma criança com doença crônica, como câncer, doenças hematológicas, vasculares, reumatológicas ou imunológicas, entre outras.
A principal medida na prevenção da dor de cabeça na infância é a mudança de hábitos de vida, evitando os gatilhos, ou seja as situações que desencadeiam a dor.
Existem alguns gatilhos que são bastante comuns, como dormir pouco ou em excesso, certos alimentos, jejum/pular refeições, menstruação e estresse. No entanto, cada criança tem seus desencadeantes específicos para dor.
Para identificá-los, é importante manter um diário, descrevendo os dias em que ocorreu a dor e quais foram as suas características e fatores associados. Com base nessas informações, é possível montar um plano terapêutico para o tratamento e prevenção da dor.
Algumas informações importantes para descrever no diário são:
Além disso, algumas dicas simples que podem ajudar a evitar a dor são:
Para prevenir a ocorrência da dor de cabeça, também podem ser utilizadas medicações de uso contínuo. Essa decisão é feita conforme as necessidades de cada paciente. No entanto, a mudança de hábitos de vida sempre deve estar presente.
Um bom controle da dor na infância resulta em um melhor controle também na vida adulta.
Espero que essas informações tenham sido úteis pra você!
Dra. Melina Frota – Neuropediatra
CRM 194310 – RQE 903431
Fontes:
Headache Classification Committee of the International Headache Society (IHS) The International Classification of Headache Disorders, 3rd edition. Cephalalgia. 2018 Jan;38(1):1-211. doi: 10.1177/0333102417738202. PMID: 29368949.
Szperka C. Headache in Children and Adolescents. Continuum (Minneap Minn). 2021;27(3):703-731. doi:10.1212/CON.0000000000000993